Manejo do solo

Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Agroecologia (NEPEA-SC)

Núcleo de Agroecologia coordenado pelo Prof. Jucinei Comin da ENR-CCA-UFSC, com participação de outros pesquisadores, extensionistas e estudantes do CCA-UFSC (entre eles os profs. Ilyas e Fernando do LEAp), da UFSC-Curitibanos, da Epagri, da UDESC

Resumo do Projeto
Na região da Grande Florianópolis, Alto Vale do Itajaí e mesmo no restante do estado de Santa Catarina, historicamente as hortaliças são produzidas com o uso de elevadas quantidades de agrotóxicos e adubos solúveis, intenso revolvimento do solo, resultando em poluição dos mananciais, perdas de solo e sementes, contaminação das pessoas que produzem e/ou consomem os alimentos e, somado a tudo isso, o sistema tem elevado custo de produção. Por isso, a construção de sistemas de produção menos impactantes e dependentes de insumos externos (fertilizantes solúveis, agrotóxicos e combustíveis) tem sido buscada através de experiências que caminham na direção de um novo padrão de produção e que ajudam na transição agroecológica. A eliminação é a meta, mas a diminuição da quantidade de adubos solúveis e de agrotóxicos aplicados nas lavouras se constitui no primeiro passo para o entendimento de fenômenos biológicos e a construção e apropriação do conhecimento pelos agricultores.
Nos últimos anos, diversos produtores têm adotado o Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH), para minimizar os efeitos negativos do sistema de cultivo convencional aos recursos naturais e à sua saúde e a do consumidor, mas também para diminuir os custos de produção, através de ações conjuntas entre um grupo de pesquisadores e agentes de ATER da Empresa de Pesquisa
Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI) e professores e estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina.
Através do SPDH se busca a produção de alimentos limpos de agroquímicos através de ações conjuntas entre agricultura familiar, pesquisa agropecuária e extensão rural pública, apresentando-se como um caminho de transição da “agricultura industrial” para a agroecológica. Desta forma, o SPDH atua como tema gerador que mobiliza, organiza e conscientiza os agricultores familiares,
os agentes de ATER de instituições públicas, os pesquisadores, professores e estudantes universitários através de um processo educativo e participativo.
Os princípios básicos para a implantação do SPDH são: 1) Decisão consciente dos envolvidos em planejar e praticar o SPDH; 2) Organização dos agricultores; 3) Valorização da qualidade de vida dos agricultores e dos consumidores; 4) Construção coletiva da transição da agricultura convencional para a agricultura agroecológica; 5) Rotação de culturas; 6) Revolvimento do solo restrito às linhas ou aos berços de plantio; 7) Implantação de culturas de cobertura do solo para manter resíduos vegetais sobre e sob o solo (produção de matéria seca superior a 10 t ha-1 ano-1); 8) Mecanização adequada para a conservação do solo e a manutenção do estabelecimento agrícola familiar; 9) Redução do uso até a eliminação de agrotóxicos e adubos altamente solúveis do sistema produtivo; 10) Promoção do “conforto” e da saúde das plantas através de adubações equilibradas e geração de microclima adequado para a expressão do máximo potencial produtivo; 11) Manejo das plantas espontâneas em consórcio com as hortaliças dentro do conceito de adubos verdes (base para eliminação do uso de herbicidas); 12) Racionalização do uso e melhoria da qualidade da água; 13) Construção de corredores e bosques ecológicos.
Com o fim de transformar as paisagens agrícolas com base em critérios agroecológicos é necessário um entendimento de como as “estratégias” de desempenho de cultivos podem ser aproveitadas para suprir as demandas por alimentos, e ao mesmo tempo reduzir a dependência de insumos externos. Para enfrentar esse desafio faz-se necessário uma abordagem interdisciplinar entre os avanços da diversidade funcional da ecologia com a produção agrícola. Especificamente, o entendimento fundamental das características ecofisiológicas através das quais as plantas se adaptam às condições ambientais, e através das quais também modificam seu ambiente. Estes atributos funcionais vegetais incluem características anatômicas, bioquímicas de folhas, flores, frutos, caule e raízes. Na sua maioria são fáceis de medir e permitem medir quanto diferentes espécies se assemelham nas suas funções no ecossistema.
Essa aproximação da ecologia de atributos funcionais com a agroecologia permitirá adaptar os consórcios e rotações de maneira que os cultivos integrados ocupem o máximo possível os nichos (espaços) ecológicos vazios, tornando os agroecossistemas mais resistentes à invasão por plantas espontâneas. Além de ambientalmente menos impactantes, agroecossistemas baseados no entendimento dos atributos funcionais deverão permitir a diminuição de custos ao produtor familiar e diversificação de renda, resultando em uma maior sustentabilidade do sistema.

Essas experiências do SPDH tem muito a inspirar o movimento Agroecológico para criar condições para agricultores convencionais começarem a sair das amarrações e entraves do pacote da revolução verde. Um leque de princípios técnicos e práticas adaptáveis para entender as próprias hortaliças como “sistema de informação” sobre saúde integral das hortaliças e do agroecossistema.